Cap. 2 - Terra que emana leite e mel

Karina chegou à terra prometida no Oriente Médio e foi morar no Kibutz, o qual lhe proporcionava casa, comida, e aulas de hebraico em troca de trabalho.

Karina acordava muito cedo e trabalhava na cozinha. Lá ela descascava diariamente 300-500 legumes. Seus colegas de trabalho eram bem mais velhos. A maioria tinha em torno de 50 anos, mas havia outros com idades bem mais avançadas.

Havia muita alegria e um ótimo humor e muitas vezes seus colegas a mimavam, o que a deixava muito feliz. Foi no Kibutz que Karina compreendeu o significado do velho ditado popular:

“O trabalho enobrece o homem”.

A ambição pelos estudos foi crescendo e apesar de gostar muito do Kibutz, em pouco tempo Karina o deixou para estudar em Sião; uma das cidades mais lindas que havia conhecido.

As casas eram todas feitas de pedras e entre elas, haviam muitos pinheiros, os quais lhe proporcionavam um visual único e especial. Parecia uma cidade encantada e Karina acabou se apaixonando por aquele incrível lugarejo.

Morava nos dormitórios da Universidade e compartilhava um quarto com uma estudante da Etiópia.Tudo parecia muito calmo e bem diferente de sua cidade natal, porém Karina praticamente não tinha amigos e as saudades de sua família e de seus amigos da Cidade Maravilhosa eram enormes.

Por vezes não conseguia conter as lágrimas e chorava as escondidas, mas logo se consolava nas palavras de seu falecido pai: “Karina, estude muito, tudo o que você aprender lhe trará benefício, pois este é o único bem que ninguém poderá lhe tirar. Um dia talvez lhe tirem seus bens assim como fizeram com seus antepassados, mas não poderão jamais lhe tirar aquilo que você aprender.

”E assim, Karina seguia adiante...

Karina estudava matemática no período matutino enquanto a noite trabalhava como garçonete. A princípio, numa cafeteria e meses mais tarde em um salão de festas. Certo dia resolveu mudar de rumo e de carreira, e passou a estudar Análises Clínicas.

Nas férias, realizou um estágio em um dos hospitais da cidade e ao concluí-lo, logo lhe ofereceram emprego. Ao término de seus estudos, Karina incorporou outro trabalho. Desta vez, no Ministério da Saúde, no laboratório de grupos sangüíneos. O trabalho no Ministério da Saúde era fascinante. Karina aprendeu a solucionar diversos problemas relacionados à compatibilidade sangüínea e até chegou a descobrir um novo antígeno eritrocitário, o que a fez muito contente.

Mas apesar de Karina estar muito feliz em seu trabalho, algumas coisas a entristeciam profundamente. Na cidade onde vivia havia muita discórdia. As pessoas não tinham tolerância umas com as outras e isto causava danos a todos.

Pessoas eram agredidas, havia protestos, terrorismo, guerras e uma total desconfiança entre as pessoas, causando um clima de muita tensão a todos os habitantes. Era difícil acreditar que numa cidade tão linda como aquela, houvesse tantos problemas.

E os problemas estavam por toda parte. Nas ruas, no trabalho, nos noticiários, nos hospitais e se alastrava por todo o país.Karina não gostava de discórdia e procurava viver em paz respeitando a todos os moradores da cidade. Anos difíceis vieram pela frente... Devido a sua bondade conheceu pessoas erradas que lhe enganaram e acabou ficando só, triste e sem dinheiro.
Não tinha mais dinheiro nem para comer.

Certo dia, ao chegar ao laboratório, sua chefe lhe disse:“Tenho aqui certa quantia e quero que você a tenha. Devolva-me quando puder”.

Karina não sabia o que dizer. Nunca havia dito uma palavra sobre sua situação financeira e ficou atônita. Neste mesmo ano, Karina concorreu a uma bolsa de estudos para se especializar na Inglaterra e dentre muitos concorrentes, foi escolhida.

Mal podia acreditar no que estava acontecendo. Além de ganhar a oportunidade para se aperfeiçoar, havia ganho uma quantia enorme, a qual daria para pagar todas suas dívidas e ainda lhe sobraria muito dinheiro. Finalmente poderia visitar sua família e ajudar a sua mãezinha.

Os anos foram passando e Karina conheceu um rapaz com o qual se casou anos mais tarde.O laboratório onde trabalhava foi transferido para outra cidade e Karina teve que mudar de emprego.Agora trabalhava na Faculdade de Medicina assistindo a uma doutorada. Também lecionava no laboratório de hematologia onde havia estudado e continuava fazendo alguns plantões no hospital.

Tudo parecia ir muito bem até que para sua surpresa um primo que Karina tinha muita admiração desde sua infância, começou a lhe escrever. Karina estava feliz pelo contato, mas sentia que algo não estava bem. Seu primo estava doente e precisava de apoio. Karina fez de tudo para ajudá-lo, mas sabia que existia um propósito para tudo na vida e infelizmente desta vez havia chegado à hora de dizer adeus.

Foi então que Karina compreendeu algo muito importante:“Não podemos impedir o adeus, mas podemos amparar e dar nosso carinho antes da partida.”Karina sofreu muito, mas não ficou desamparada. Uma amiga de seu primo lhe estendeu a mão e lhe mostrou um novo mundo.

O mundo que as religiões pregam; o mundo do amor incondicional, do amor ao próximo, o mundo de Deus. E Karina nunca mais foi a mesma.

Tornara-se voluntária em um hospital, dedicando-se aos doentes terminais, seguindo o exemplo de seu primo e de sua amiga.Através do trabalho com estes pacientes, pôde descobrir a força do amor e a certeza de que Deus existia.

Já não havia mais dúvidas.Deus havia respondido às suas perguntas.

Quando amparamos nossos irmãos que sofrem nas ruas, na miséria, na doença, na fome e na dor, contribuímos para que haja menos sofrimento no mundo.

Karina teve uma filha, Jordana, a qual a criou com muito amor e carinho. Jordana era ainda mais curiosa que sua mãe e Karina gostava de lhe ensinar sobre o mundo.Com sua ajuda desenvolveu vários trabalhos e escreveu um livro, o qual mais tarde enviou a várias instituições que trabalhavam com crianças.

Os anos iam passando e a situação onde morava havia se tornado insuportável.
O terrorismo tomara conta do país e muitas pessoas sofriam.

Pensava consigo, “Como podem seres humanos destruir uns aos outros?”
Karina desejava apenas viver em paz com seus vizinhos e mais uma vez com muita tristeza acabou deixando a terra que emana leite e mel para um lugar muito distante.
Distante de tudo e de todos.