Cap. 1 - A Cidade Maravilhosa

Karina era uma menina muito alegre e muito simples.

Vivia numa cidade muito linda, a qual seus habitantes a chamavam de “Cidade Maravilhosa.”

E era tão maravilhosa que Karina se encantava com os arranha-céus, com a praia e seus minúsculos e branquinhos grãos de areia, os calçadões ilustrados com pedras portuguesas, onde ela adorava saltitar, às vezes saltitava no preto e outras vezes, no branco.

Ao lado de sua casa, havia uma bela igreja e, em seu pátio, duas formosas aves de plumagem azul e vermelha: as inesquecíveis araras.

Karina gostava muito de sua cidade e de todas as pessoas que ali moravam. Era uma menina muito curiosa e gostava de aprender coisas novas. Adorava conversar com os idosos. Os mais velhos sabem de muitas coisas e sempre têm histórias muito interessantes para contar e ela se deliciava em ouvir e aprender. Também adorava ajudar. Seus amigos sabiam que podiam sempre contar com ela.

Karina foi crescendo e começou a ver coisas que não compreendia...

“Por que depois da noite vinha o dia?”
“Por que havia ondas no mar?”
“Por que as nuvens passeavam no céu?”
“Por que o céu era azul?”

Quem poderia responder a todas as suas perguntas?
Talvez a escola, pensava consigo mesma.
Sabia que lá, iria aprender um montão de coisas novas.
Os anos se passavam e Karina ficava cada vez mais perplexa...

A escola era um lugar muito agradável e Karina certamente havia aprendido muito, mas as perguntas pareciam não ter fim.Quando aprendia sobre determinado assunto, lá vinham mais perguntas e quando obtinha certas respostas, outras surgiam.

O mundo para ela se resumia em perguntas e respostas.
Uma pergunta e uma resposta.
Uma pergunta e várias respostas.
Uma pergunta e nenhuma resposta.
“Que mundo interessante!”, pensava consigo.

Quem poderia responder a todas as suas perguntas?
Um belo dia, Karina ouviu falar de Deus. Na escola onde estudava, lhe ensinaram sobre os milagres que Deus havia feito ao seu povo e como Deus falava a seus antepassados, e delirando imaginava:“Como seria bom se Deus pudesse falar comigo e eu pudesse perguntar e receber todas as respostas...”

A cada aula bíblica, ela sonhava mais e mais. Seu interesse pelas escrituras crescia, bem como sua vontade em seguir os mandamentos ali escritos.Era uma aluna exemplar e devido a sua dedicação às escrituras, seus professores lhe abençoaram e lhe deram um diploma muito especial.

Karina agora sabia que existia um Deus que lhe daria todas as respostas.
E havia tantas perguntas...
“Por que tanta fome no mundo?”
“Por que tanto ódio no mundo?”
“Por que tanta desgraça no mundo?”
“Por que tanta pobreza?”
“Por que tantas doenças?”
“Por que tantas crianças sofrendo?”
“Enfim, por que tanto sofrimento?”

Karina olhava a sua volta e via muitas pessoas dormindo nas ruas sobre caixas de papelão.
Via crianças procurando comida no lixo, pessoas com frio sem ter um agasalho, crianças descalças com roupinha suja...

Seu coração ficava apertado tentando entender o porquê. Nada lhe parecia lógico.
Queria ajudar, mas não sabia como. Era muito tímida e tinha vergonha de falar com pessoas estranhas. Mas as cenas se repetiam diariamente e tudo aquilo ia se tornando um martírio para a pequena Karina...

Vez ou outra, alguém dizia: "é culpa do governo”.
Outros lhe diziam que se Deus existisse, não deixaria as pessoas sofrendo.
Karina estava muito confusa.

Estava indignada com o governo, mas será que Deus realmente não existia?
Olhava para as estrelas, para o sol, para a natureza...
Sabia que existia algo acima de tudo, mas quem era Deus?
Por que permitia tudo isto?

Karina começou a olhar o mundo de outra forma.
A Cidade Maravilhosa, já não lhe parecia tão maravilhosa assim e ela se viu num mar revolto.
Não sabia mais como remar contra a maré.

Um dia, de tanta tristeza, resolveu deixar a Cidade Maravilhosa e partiu para um lugar muito distante. Um lugar onde pudesse aprender muito para um dia poder ajudar os habitantes de sua cidade.

Cap. 2 - Terra que emana leite e mel

Karina chegou à terra prometida no Oriente Médio e foi morar no Kibutz, o qual lhe proporcionava casa, comida, e aulas de hebraico em troca de trabalho.

Karina acordava muito cedo e trabalhava na cozinha. Lá ela descascava diariamente 300-500 legumes. Seus colegas de trabalho eram bem mais velhos. A maioria tinha em torno de 50 anos, mas havia outros com idades bem mais avançadas.

Havia muita alegria e um ótimo humor e muitas vezes seus colegas a mimavam, o que a deixava muito feliz. Foi no Kibutz que Karina compreendeu o significado do velho ditado popular:

“O trabalho enobrece o homem”.

A ambição pelos estudos foi crescendo e apesar de gostar muito do Kibutz, em pouco tempo Karina o deixou para estudar em Sião; uma das cidades mais lindas que havia conhecido.

As casas eram todas feitas de pedras e entre elas, haviam muitos pinheiros, os quais lhe proporcionavam um visual único e especial. Parecia uma cidade encantada e Karina acabou se apaixonando por aquele incrível lugarejo.

Morava nos dormitórios da Universidade e compartilhava um quarto com uma estudante da Etiópia.Tudo parecia muito calmo e bem diferente de sua cidade natal, porém Karina praticamente não tinha amigos e as saudades de sua família e de seus amigos da Cidade Maravilhosa eram enormes.

Por vezes não conseguia conter as lágrimas e chorava as escondidas, mas logo se consolava nas palavras de seu falecido pai: “Karina, estude muito, tudo o que você aprender lhe trará benefício, pois este é o único bem que ninguém poderá lhe tirar. Um dia talvez lhe tirem seus bens assim como fizeram com seus antepassados, mas não poderão jamais lhe tirar aquilo que você aprender.

”E assim, Karina seguia adiante...

Karina estudava matemática no período matutino enquanto a noite trabalhava como garçonete. A princípio, numa cafeteria e meses mais tarde em um salão de festas. Certo dia resolveu mudar de rumo e de carreira, e passou a estudar Análises Clínicas.

Nas férias, realizou um estágio em um dos hospitais da cidade e ao concluí-lo, logo lhe ofereceram emprego. Ao término de seus estudos, Karina incorporou outro trabalho. Desta vez, no Ministério da Saúde, no laboratório de grupos sangüíneos. O trabalho no Ministério da Saúde era fascinante. Karina aprendeu a solucionar diversos problemas relacionados à compatibilidade sangüínea e até chegou a descobrir um novo antígeno eritrocitário, o que a fez muito contente.

Mas apesar de Karina estar muito feliz em seu trabalho, algumas coisas a entristeciam profundamente. Na cidade onde vivia havia muita discórdia. As pessoas não tinham tolerância umas com as outras e isto causava danos a todos.

Pessoas eram agredidas, havia protestos, terrorismo, guerras e uma total desconfiança entre as pessoas, causando um clima de muita tensão a todos os habitantes. Era difícil acreditar que numa cidade tão linda como aquela, houvesse tantos problemas.

E os problemas estavam por toda parte. Nas ruas, no trabalho, nos noticiários, nos hospitais e se alastrava por todo o país.Karina não gostava de discórdia e procurava viver em paz respeitando a todos os moradores da cidade. Anos difíceis vieram pela frente... Devido a sua bondade conheceu pessoas erradas que lhe enganaram e acabou ficando só, triste e sem dinheiro.
Não tinha mais dinheiro nem para comer.

Certo dia, ao chegar ao laboratório, sua chefe lhe disse:“Tenho aqui certa quantia e quero que você a tenha. Devolva-me quando puder”.

Karina não sabia o que dizer. Nunca havia dito uma palavra sobre sua situação financeira e ficou atônita. Neste mesmo ano, Karina concorreu a uma bolsa de estudos para se especializar na Inglaterra e dentre muitos concorrentes, foi escolhida.

Mal podia acreditar no que estava acontecendo. Além de ganhar a oportunidade para se aperfeiçoar, havia ganho uma quantia enorme, a qual daria para pagar todas suas dívidas e ainda lhe sobraria muito dinheiro. Finalmente poderia visitar sua família e ajudar a sua mãezinha.

Os anos foram passando e Karina conheceu um rapaz com o qual se casou anos mais tarde.O laboratório onde trabalhava foi transferido para outra cidade e Karina teve que mudar de emprego.Agora trabalhava na Faculdade de Medicina assistindo a uma doutorada. Também lecionava no laboratório de hematologia onde havia estudado e continuava fazendo alguns plantões no hospital.

Tudo parecia ir muito bem até que para sua surpresa um primo que Karina tinha muita admiração desde sua infância, começou a lhe escrever. Karina estava feliz pelo contato, mas sentia que algo não estava bem. Seu primo estava doente e precisava de apoio. Karina fez de tudo para ajudá-lo, mas sabia que existia um propósito para tudo na vida e infelizmente desta vez havia chegado à hora de dizer adeus.

Foi então que Karina compreendeu algo muito importante:“Não podemos impedir o adeus, mas podemos amparar e dar nosso carinho antes da partida.”Karina sofreu muito, mas não ficou desamparada. Uma amiga de seu primo lhe estendeu a mão e lhe mostrou um novo mundo.

O mundo que as religiões pregam; o mundo do amor incondicional, do amor ao próximo, o mundo de Deus. E Karina nunca mais foi a mesma.

Tornara-se voluntária em um hospital, dedicando-se aos doentes terminais, seguindo o exemplo de seu primo e de sua amiga.Através do trabalho com estes pacientes, pôde descobrir a força do amor e a certeza de que Deus existia.

Já não havia mais dúvidas.Deus havia respondido às suas perguntas.

Quando amparamos nossos irmãos que sofrem nas ruas, na miséria, na doença, na fome e na dor, contribuímos para que haja menos sofrimento no mundo.

Karina teve uma filha, Jordana, a qual a criou com muito amor e carinho. Jordana era ainda mais curiosa que sua mãe e Karina gostava de lhe ensinar sobre o mundo.Com sua ajuda desenvolveu vários trabalhos e escreveu um livro, o qual mais tarde enviou a várias instituições que trabalhavam com crianças.

Os anos iam passando e a situação onde morava havia se tornado insuportável.
O terrorismo tomara conta do país e muitas pessoas sofriam.

Pensava consigo, “Como podem seres humanos destruir uns aos outros?”
Karina desejava apenas viver em paz com seus vizinhos e mais uma vez com muita tristeza acabou deixando a terra que emana leite e mel para um lugar muito distante.
Distante de tudo e de todos.

Cap. 3 - Terra Australis Incógnita

Karina havia chegado a maior ilha do oceano pacífico e se estabelecera na cidade das igrejas.
A cidade não era tão linda quanto a “Cidade Maravilhosa” e tampouco tinha o visual de Sião, mas havia belíssimos parques e florestas ao seu redor.


As pessoas que ali viviam eram calmas, honestas, muito solidárias, muito educadas e possuíam uma consciência voltada ao próximo e ao meio ambiente, o que certamente fazia do local, um lugar muito especial.

Finalmente havia encontrado um lugar para viver em paz com seus vizinhos, criar seus filhos e viver com dignidade.
Um lugar como num conto de fadas.

E Karina se sentia abençoada e em paz.

Na cidade das igrejas
Não havia discórdia entre povos,
Não havia agressões,
Não havia pessoas vivendo debaixo da ponte,
Não havia fome,
Não havia miséria,
Não havia desconfiança,
Não havia terrorismo
E não havia guerras

Tudo parecia funcionar maravilhosamente bem. Era como se Deus houvesse colocado a sua mão neste lugar.

Mas qual seria a fórmula para este sonho tão real?
Governo? Educação? Povo?

Karina não podia esquecer as cenas de sua cidade natal.
Ela se lembrava da miséria, das pessoas vivendo nas ruas e isto lhe doía profundamente. Queria que todos tivessem o mesmo privilégio que ela estava tendo.
E os “porquês” foram dando lugar aos “comos”.

“Como acabar com a miséria?”
“Como acabar com a corrupção?”
“Como acabar com a violência?”
“Como acabar com o sofrimento alheio?”

Karina sabia que isto era possível, pois vivia numa cidade abençoada.
Mas por onde começar?

Sabia que em sua terra natal as leis nem sempre se cumpriam. Nem todas as pessoas eram honestas. Havia muita corrupção e muita mentira. Os hospitais nem sempre podiam atender os pacientes. Muitas vezes faltava tudo, desde material básico a equipamentos. Educação era ilusória, as crianças mal sabiam ler e os valores morais, ah estes estavam sendo esquecidos.
Até mesmo a religião estava sendo manipulada e o que falar do governo?

A cidade maravilhosa havia se transformado na cidade do faz de conta.
Havia professores fazendo de conta que ensinavam. Alunos fazendo de conta que aprendiam. Profissionais fazendo de conta que trabalhavam. E governantes fazendo de conta que se importavam.

Os meses iam passando e Jordana ingressara na escola.
Karina havia se tornado uma voluntária no colégio e ajudava no que era preciso. Cortava frutas para as crianças, lavava brinquedos, cozinhava nos eventos escolares e auxiliava as crianças com a leitura.

Karina começou a perceber que Jordana aprendia coisas que ela nunca tivera a oportunidade de aprender em sua escola.
Aos cinco anos já estava sendo alfabetizada e trazia diariamente livros que ela escolhia para ler em casa.
Este era seu dever de casa. Ler 10 minutos para sua mãe.

Karina ficava pensativa.

“Será que seus professores haviam pensado nisto?”

Quando era pequena quase não lia. Não havia uma biblioteca em sua escola e comprar livros nem sempre era possível. Os livros eram muito caros.

Jordana foi crescendo e continuava trazendo livros da escola para ler em casa. Haviam livros com letras grandes e outros com letras menores. Tudo era apropriado para sua idade.

E os livros eram tão interessantes...

Não eram livros só de literatura infantil, eram livros sobre todos os assuntos. Todos muito bem escritos e com uma linguagem fácil de ser compreendida. Haviam livros sobre ecologia, ciências, animais, ficção, saúde, reciclagem e até biografias de pessoas notáveis por sua contribuição a humanidade.

Jordana absorvia tudo e conversava com Karina a respeito do que lia. Falava sobre os planetas, sobre restrição de água, sobre doentes, animais e assuntos que Karina jamais pensara em sua idade.

Fazendo uma análise, Karina chegou à conclusão que a educação nas escolas era o que fazia a diferença entre sua terra natal e a cidade das igrejas. Se conseguisse educar as crianças então tudo seria diferente.

Karina se empenhou em escrever um programa para melhorar a educação em sua terra natal e enviou milhares de cartas a todos os que ela pôde alcançar.

Algumas escolas se interessaram pelo programa e procuraram adaptá-lo e implementá-lo de acordo com a realidade existente na cidade. Mas Karina sabia que era preciso alcançar a todos e saiu em busca de voluntários que a ajudassem a divulgar o programa.

Se você desejar colaborar com Karina e quiser ver sua cidade progredir, então aqui vai a fórmula:

1 Leia todos os dias pelo menos 10 minutos (qualquer livro de seu interesse). O conhecimento adquirido um dia será útil para sua comunidade, além de ser o único bem que ninguém poderá lhe tirar.

2 Ajude o próximo e os menos favorecidos através de campanhas nas escolas ou através de um grupo de amigos. Um aniversário beneficente também será muito bem-vindo.

3 Traga alegria aos orfanatos, asilos, hospitais e outros lugares onde as pessoas se encontrem tristes e solitárias. Um desenho, uma flor, uma carta ou um cartão fazem milagres.
4 Respeite e ajude as pessoas portadoras de deficiência. Envolva-os em atividades em sua escola e em centros comunitários. Não nascemos para viver sós. Nem eles.
5 Cuide do meio ambiente.
6 Respeite a todos independente de raça, situação econômica, religião, idade e sexo.
7 Respeite e proteja os animais.
8 Seja honesto e justo e jamais siga os caminhos de quem prega a discórdia entre povos, religiões, classes sociais, etc.
9 Se inspire nas pessoas que um dia fizeram algo em prol dos demais. O mundo está cheio de exemplos. Leia biografias.
10 Doe seu conhecimento em prol da comunidade.
11 Seja um exemplo a seguir. Mais valem exemplos do que palavras.
12 Persevere e tenha paciência. As grandes mudanças podem demorar, mas elas acontecem. Leia sobre a história do mundo.
13 Repasse a fórmula para seus amigos.


Afinal, a cidade das igrejas só se transformou no paraíso porque seus moradores um dia resolveram usar esta fórmula. E ao usá-la compreenderam que onde há conhecimento, honestidade, valores morais, amor ao próximo, leis que assistem os cidadãos e cidadãos que se dedicam a melhoria da cidade e das condições de vida de seus habitantes, lá estão as mãos de Deus.